Qual a influência da WPATH na transição de gênero de crianças e adolescentes?
- Mátria Associação Matria
- 22 de abr.
- 6 min de leitura
Atualizado: 25 de abr.
O clamor por intervenções médicas radicais em crianças e adolescentes com confusão de gênero vem da influência internacional desta organização.
As diretrizes da WPATH — que conseguiu se tornar referência global para o atendimento de pessoas com disforia de gênero — influenciam serviços clínicos, ONGs e políticas públicas ao redor do mundo. Mas vazamentos recentes, decisões judiciais e interferência em pesquisas científicas revelam a face corrupta da organização. Não se trata de medicina baseada em evidências, mas de ativismo extremo e perigoso mal disfarçado de ciência.

O que é a WPATH — e por que ela importa?
A World Professional Association for Transgender Health (WPATH) é hoje a principal entidade global cujas diretrizes de prática clínica orientam o cuidado de pessoas transgênero. Suas Standards of Care (SOC) são seguidas por clínicas, hospitais e sistemas de saúde — inclusive no Brasil.
A WPATH se apresenta como uma organização interdisciplinar e educacional, dedicada à saúde de pessoas trans. No entanto, segundo denúncia publicada pelo The Guardian, muitos de seus membros não são profissionais da saúde nem cientistas, mas sim ativistas, o que levanta dúvidas sobre a legitimidade científica de suas recomendações.
Apesar de se posicionar como a voz da medicina trans mundial, a WPATH não representa um consenso científico internacional. É de conhecimento público que as diretrizes da WPATH são baseadas em circularidade e citações distorcidas da literatura científica¹.
Na realidade, as suas diretrizes colidem com todas as revisões sistemáticas independentes feitas até hoje sobre tratamentos hormonais e cirúrgicos para adolescentes.
A ciência diz outra coisa: evidências alertam para riscos
Bloqueadores de puberdade, hormônios cruzados e cirurgias de redesignação sexual são intervenções com efeitos irreversíveis e consequências ainda mal compreendidas. A literatura científica mais robusta recomenda prudência².

Por isso, diversos países como Reino Unido, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Austrália, Itália e Nova Zelândia já restringiram esse tipo de abordagem para crianças e adolescentes. Essas decisões se baseiam em evidências de riscos como infertilidade, perda de função sexual, impacto neurológico, baixa densidade óssea e desenvolvimento de câncer.
Vazamentos revelam práticas extremas e conduta antiética
Mensagens internas vazadas da própria WPATH, também noticiadas pelo The Guardian, revelam um cenário alarmante. O homem transidentificado que preside a organização, por exemplo, admitiu não conhecer nenhum paciente que tenha atingido o orgasmo após bloqueios puberais iniciados no estágio Tanner 2 — ou seja, no início da puberdade.
Médicos vinculados à WPATH conversaram sobre cirurgias recomendadas em suas diretrizes de prática para pessoas 'não binárias’: "vaginoplastia com preservação do pênis", procedimento que resulta em corpos com ambos os conjuntos de genitais; "anulação genital", cirurgia que remove completamente os genitais, deixando apenas uma área lisa; e mastectomias com remoção de mamilos, em adolescentes.
Há ainda discussões internas sobre riscos de câncer hepático em adolescentes submetidos a hormônios cruzados e admissão de realizar intervenções em jovens com transtornos mentais graves, que comprometem sua capacidade de consentimento.
Diretrizes de 2022: fim dos limites etários e novas "identidades de gênero"
A oitava edição das Standards of Care (SOC8), publicada em 2022, removeu todas as idades mínimas para uso de hormônios e cirurgias de redesignação — com exceção da cirurgia genital de transição de feminino para masculino.

Nesta edição, a WPATH passou a incluir a figura do “eunuco” como identidade de gênero legítima — referindo-se a homens que desejam ser castrados. A decisão escancarou o viés ideológico da organização e aprofundou as críticas à falta de rigor científico e à transformação de quadros de sofrimento mental em identidades alcançadas por cirurgias mutiladoras como práticas clínicas legítimas.
O caso canadense e as diretrizes da WPATH
Em 2024, um caso julgado no Canadá noticiado pelo site National Post, confirmou a perigosa influência da WPATH. Um homem que se identifica como “não binário de predominância feminina” processou o sistema público de saúde exigindo a cobertura de uma cirurgia experimental nos Estados Unidos: a criação de uma neovagina com tecido intestinal, mantendo o pênis.
Segundo ele, o método cirúrgico tradicional — que remove o pênis ao invertê-lo — violaria sua identidade não binária, representando uma espécie de “terapia de conversão para o binarismo”. O tribunal acatou os argumentos com base nas diretrizes da WPATH que recomendam este tipo de cirurgia, obrigando o Estado a custear o procedimento nos EUA.
Essa decisão ilustra como as recomendações da WPATH têm sido usadas para sustentar intervenções extremas, mesmo quando inexistem razões médicas ou quaisquer bases éticas ou científicas.
A interferência da WPATH na ciência: o caso Johns Hopkins
Em 2018, a WPATH encomendou ao Centro de Práticas Baseadas em Evidências da Universidade Johns Hopkins uma série de revisões sistemáticas sobre tratamentos médicos para pessoas trans.

O que parecia um esforço de base científica logo se transformou em um escândalo . Segundo documentos revelados pelo The Economist, a WPATH interferiu diretamente nos resultados, pressionando os pesquisadores e afirmando que “os dados não poderiam ser usados sem sua aprovação”.
Apesar de o contrato não permitir veto à publicação, em 2020, ao ver os primeiros manuscritos, o comitê executivo da WPATH exigiu revisões e controle sobre os resultados. Pouco depois, impuseram uma nova política, com poder de censura editorial — o que fere diretamente os princípios de liberdade acadêmica.
Desde então, das seis revisões realizadas, apenas uma foi publicada — uma meta-análise de 2021 sobre terapia hormonal. As outras continuam fora do alcance do público. As revisões disponíveis hoje, feitas por pesquisadores independentes, contrariam frontalmente as diretrizes da WPATH².
Influência da WPATH na transição de gênero: ideologia ou medicina?
Diante de todos esses fatos, é legítimo perguntar: as diretrizes da WPATH são realmente orientadas por princípios éticos médicos como primum non nocere (“primeiro, não causar dano”)?
Ou estamos diante da transformação da medicina em um serviço de mercado, onde a ética profissional e o discernimento clínico cedem lugar à lógica do “cliente sempre tem razão”?
Por que tantas associações científicas, universidades e ONGs no Brasil continuam promovendo intervenções médicas radicais em crianças e adolescentes, com base em diretrizes de uma organização que suprime evidências e ignora princípios científicos e éticos fundamentais?
Referências
¹Taylor, J., Hall, R., Heathcote, C., Hewitt, C. E., Langton, T., & Fraser, L. (2024). Clinical guidelines for children and adolescents experiencing gender dysphoria or incongruence: a systematic review of guideline quality (part 1). Archives of disease in childhood, 109(Suppl 2), s65-s72.
Taylor, J., Hall, R., Heathcote, C., Hewitt, C. E., Langton, T., & Fraser, L. (2024). Clinical guidelines for children and adolescents experiencing gender dysphoria or incongruence: a systematic review of guideline quality (part 1). Archives of disease in childhood, 109(Suppl 2), s65-s72.
²Abbruzzese, E., Levine, S. B., & Mason, J. W. (2023). The myth of “reliable research” in pediatric gender medicine: a critical evaluation of the Dutch studies—and research that has followed. Journal of Sex & Marital Therapy, 49(6), 673-699.
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Taylor, J., Mitchell, A., Hall, R., Heathcote, C., Langton, T., Fraser, L., & Hewitt, C. E. (2024). Interventions to suppress puberty in adolescents experiencing gender dysphoria or incongruence: a systematic review. Archives of Disease in Childhood. https://doi.org/10.1136/archdischild-2023-326669
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