Em 22/01/2024, o Ministério das Mulheres lançou campanha sobre dignidade menstrual e distribuição gratuita de absorventes nas farmácias populares. A campanha, no entanto, como diversas outras deste Ministério em específico e do Governo em geral, não menciona uma única vez as palavras relativas ao público-alvo de tal campanha: meninas e mulheres.
Como demonstram as imagens acima, a campanha é para “quem mais precisa”, para a “população em situação de vulnerabilidade social”, para “pessoas entre 10 e 49 anos” e “pessoas que se encaixam nos critérios”. Jamais é mencionado que apenas meninas e mulheres podem ter todas essas características.
Em que pese discurso atual de que o apagamento das palavras referentes ao sexo feminino serviria para inclusão daquelas que não se identificam com os símbolos da feminilidade, sabemos que tal manobra nada tem a ver com a pequeníssima parcela do sexo feminino que se autodeclara “homem trans”, “transmaculino” ou “não-binária”. Se assim fosse, veríamos uma alteração correspondente do vocabulário relativo ao sexo masculino, com campanhas que falassem em “pessoa com próstata”, “produtor de esperma” ou “portador de saco escrotal” ao invés de homem, para não ofender às pessoas do sexo feminino que se identificam como homens mas não possuem essas características biológicas.
Basta uma olhada no perfil do Ministério da Saúde, por exemplo, para ver que não é o que acontece. Abaixo, imagens de quatro postagens diferentes sobre saúde dos homens, sem apagamento desta palavra:
Resta claro, portanto, que o apagamento de palavras e de classe sexual corre apenas em um sentido, o da misoginia.
O objetivo? Dissociar a palavra mulher de tudo que é exclusivo ao sexo feminino, como menstruar, gestar, parir ou amamentar, para que seja possível que pessoas do sexo masculino possam reivindicar para a si a nomenclatura "mulher".
Com esse tipo de postagem que apaga a palavra mulher, o Ministério das Mulheres está, portanto, trabalhando a serviço de interesses unicamente masculinos.
É sabido que o governo Lula se elegeu com base no voto de mulheres (e de pessoas pobres, com quem campanhas que usam termos recém inventados absolutamente não se comunicam). Em sua campanha, bem como na de seus aliados informais (como, por exemplo, o PSOL), foram criados comitês de MULHERES, mobilizadas MULHERES, sem qualquer menção a outra palavra que descrevesse tal grupo.
A alteração que estamos vendo após a eleição configura, aos nossos olhos, estelionato eleitoral e abandono político de sua sua base eleitoral, com consequências que fatalmente serão sentidas no futuro.
Ou o governo pretende se reeleger com o voto das "pessoas que menstruam"?
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